5 anos sem resposta: Quem mandou matar Marielle e Anderson?

Cobrar nas ruas a responsabilização dos mandantes e assassinos de Marielle para desentrelaçar a relação da milícia com o Estado.

Hoje completam-se cinco anos do maior crime político da história recente do Brasil. Na noite do dia 14 de março de 2018, quando voltava de uma atividade de formação política para jovens negras na Lapa, no Centro do Rio, a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram perseguidos e emparelhados por um carro e foram assassinados com uma saraivada de tiros.

As investigações levaram à prisão de dois milicianos, apontados como autores do homicídio. Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz. As investigações também apontaram que Lessa, vizinho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no condomínio Vivendas da Barra, liderava um esquema de tráfico internacional de armas e possuia ao menos 117 fuzis em um de seus imóveis.

Porém, mesmo após meia década, o inquérito não chegou a qualquer conclusão sobre se os milicianos agiram sozinhos ou a mando de alguém. E apesar de haverem muitas hipóteses e especulações, ainda não se sabe qual a motivação direta do crime.

Há muitas particularidades que rondam o inquérito. A investigação do caso tem tido muitas trocas de direção. Cinco delegados já assumiram o caso e o MP também já trocou os promotores três vezes. Até a expulsão definitiva de Lessa da PM só aconteceu no mês passado, quatro anos após a sua prisão.

Outro fator que também chama atenção no caso é que, quando o atentado ocorreu, em 2018, o Rio de Janeiro passava por uma intervenção federal, sob comando do general Braga Netto, ainda no governo Michel Temer (MDB). Braga Netto, que foi ministro da defesa do governo Bolsonaro e em seguida, candidato a vice presidente em sua chapa, chegou a afirmar que “poderia ter anunciado a solução do caso Marielle”. O ministro da Segurança Pública da época, Raul Jungmann, chegou a afirmar que o que dificultava a resolução do caso seriam os “interesses que envolvem agentes públicos, milícias e políticos”.

Até hoje, os acusados permanecem em prisão preventiva e não foram julgados pelo crime de homicídio. O processo segue em segredo de Justiça, e por determinação da Justiça do Rio, nem os advogados ou família de Marielle têm acesso aos autos. Há um debate sobre a federalização do caso, mas que nunca foi efetivado. Só no mês passado, o atual ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB) moveu a Polícia Federal como um braço auxiliar da investigação, ato que tem sido considerado como um ato muito mais simbólico do que prático.

A difícil resolução do caso, demonstra o entrelaçamento do poder do estado do Rio de Janeiro (e em um menor grau, também do estado brasileiro) com as milícias. A morosidade deixa claro que há um envolvimento das forças que deveriam investigar o caso com a parte investigada.

Por isso, cobrar nas ruas por Justiça é uma responsabilidade histórica dessa geração. Marielle era uma vereadora do PSOL, uma mulher negra e bissexual, formada como ativista dos direitos humanos na favela da Maré. Sua atuação no combate às milícias era notória e essa parece ser a razão de incomodar tanto os poderosos. Mas seu assassinato, causou um efeito contrário ao esperado, Marielle se tornou semente, um simbolo da luta que inspira milhares de mulheres negras da periferia a se inserir na mobilização social e na política. Marielle abriu caminho para dezenas de novas parlamentares negras nas mais diversas instâncias de representação e centenas de novas ativistas no movimento social.

Ato Justiça por Marielle em Belo Horizonte

Hoje (14/03), marcando os cinco anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, Para lembrar a luta e o legado de Marielle exigir Justiça, haverá uma solenidade na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), às 16h.

Também acontecerá o “Festival Marielle!” Justiça por Marielle e Anderson”, realizado pelas diferentes organizações políticas que compõem o Comitê Marielle Vive! O evento inicia às 18h, no viaduto Santa Tereza, em BH, com intervenções artísticas e políticas.