Ômicron: governos cruzam os braços diante da maior explosão de casos da Pandemia

Com recorde de casos sendo quebrados diariamente, sistema de saúde começa a apresentar sinais de fadiga. Mas governantes não adotam qualquer medida restritiva.

O ano de 2022 já começou marcado pela quarta onda da pandemia de Covid-19, gerada pela variante Ômicron, detectada pela primeira vez em novembro, no continente africano. A variante, que já é predominante em todo o mundo, tem provocado uma verdadeira explosão de casos onde chegou, como foi observado na África, Europa e Estados Unidos.

Já era sabido que isso também iria acontecer no Brasil, mas os governantes não iniciaram qualquer tipo de preparação para esse momento, optando por deixar o vírus circular sem adotar qualquer medida de restrição de mobilidade (e ainda flexibilizando as poucas medidas em vigor), mitigação de danos, reforço no abastecimento dos estoques de testes ou aceleração da vacinação infantil, já aprovada desde dezembro pela Anvisa.

Com a flexibilização das medidas de isolamento, a população já cansada de enfrentar a pandemia sozinha e afetada pela sensação de segurança gerada pela melhora dos índices de contaminação em dezembro e com o avanço da vacinação, têm abandonado o distanciamento social. E por mais que achássemos que não, o negacionismo ainda teve e tem força.

Internações também voltam a crescer, mas em ritmo mais lento que contágio

Paredão de novos: Brasil chegou a atingir mais de 195 mil casos em 24h, mas número pode ser ainda maior, já que faltam testes na Rede Pública e Privada de Saúde.

É verdade que a Ômicron é uma variante um pouco menos letal do que as cepas anteriores. Um estudo publicado na revista científica Lancet, que analisou o número de contaminações e internações na Dinamarca entre vacinados e não vacinados, constatou que o risco de hospitalização pela variante Ômicron entre pessoas não vacinadas é cerca de 40% a 50% menor do que pela variante Delta.

Porém, como a cepa chega a ser 70 vezes mais contagiosa que o primeiro coronavírus, existe uma tendência de aumento nos números absolutos de internações e mortes. Essa mesma lógica de pensamento vale para crianças, que por não estarem vacinadas, passam a fazer parte dos grupos mais vulneráveis para a doença.

Proliferação da ômicron em Belo Horizonte faz com que o índice de contágio por 100 mil habitantes atingir índices nunca antes vistos.

A verdade é que a vacinação tem sido decisiva para manter a menor letalidade e gravidade das infecções. Entre todas as cepas que surgiram até aqui, a Ômicron tem o maior poder de escape vacinal. Ou seja, mesmo pessoas com a vacinação completa têm contraído a doença, porém as vacinas estão conseguindo impedir que o crescimento de internações e mortes aconteçam na mesma velocidade que o de contaminações. De acordo com a prefeitura, 81% dos internados com Covid-19 nos hospitais públicos e privados não se imunizaram contra a doença. Entre os internados vacinados, cerca de 60¨% tomaram apenas uma dose. Pessoas com mais de 65 continuam sendo os maiores afetados.

A ocupação de leitos de UTI e de enfermarias permanecem no vermelho há semanas. O que tem obrigado a prefeitura e hospitais privados a reabrir leitos que estavam fechados desde o segundo semestre de 2020, para evitar que o sistema entre em colapso.

Crescimento dos casos em crianças e inicio da vacinação infantil

Casos confirmados de Covid-19, divididos por sexo e faixa etária desde o início da pandemia. Como mostra o gráfico, casos de Covid entre crianças de 1 à 19 anos não são insignificantes.

O número de infecções, internações e mortes por Covid-19 são menos comuns em crianças, mas isso não significa que elas não são acometidas. Desde o início da pandemia 10 crianças e adolescentes de 0 à 19 anos morreram em decorrência da Covid-19, metade delas tinham menos de 5 anos de idade. No Brasil, até dezembro do ano passado, 1449 crianças morreram em decorrência da Covid.

Com a variante Ômicron, o número de infecções e internações também tem crescido entre os pequenos. No domingo (23/01) o Hospital Infantil João Paulo II, anunciou que estava com 100% dos leitos ocupados e que por isso teria que priorizar apenas os casos graves relacionados aos sintomas de síndrome respiratória. Segundo a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), responsável por gerir a casa de saúde, a rede de urgência do município foi notificada para que não sejam encaminhados novos casos pediátricos para lá. Restando para a rede pública a utilização das UPAs para os atendimentos pediátricos de urgência.

É preciso lembrar que a vacinação infantil começou no dia 14 de janeiro, um mês depois da aprovação da vacina pediátrica da Pfizer pela Anvisa. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Ministro da Saúde Marcelo Queiroga, tentaram de todas as formas dificultar a sua aplicação, com a criação de uma inédita consulta pública e a divulgação de dados falsos sobre efeitos colaterais da vacina. O presidente chegou a levantar dúvidas sobre as “intenções” do órgão ao recomendar a vacinação de crianças entre cinco e 11 anos.

Além de todo o atraso e dificuldade criados pelo Governo Federal, o número de doses compradas é completamente insuficiente. Em Belo Horizonte, apenas 22% das crianças de 5 a 11 anos com comorbidades foram vacinas. Entre as crianças sem comorbidades, a vacinação não conseguiu cobrir completamente a faixa dos 11 anos.

Campanha de vacinação do Governo Federal, não incentiva a vacinação e não fala de seus benefícios. Prioridade do governo Bolsonaro é continuar a desincentivar a vacinação.

Com a aprovação da Coronavac para o uso de crianças de 5 a 17 anos na última quinta-feira (20/01), Belo Horizonte incluiu este imunizante para a vacinação das crianças, a partir de segunda-feira (24/01). Pela primeira vez, desde o início da pandemia, a gestão de Alexandre Kalil (PSD) se adiantou em relação as recomendações do Ministério da Saúde e não esperou a inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunização (PNI).

Apesar disso, a PBH não iniciou qualquer campanha massiva de conscientização e incentivo a vacinação infantil, o que seria extremamente necessário, já que o Governo Federal permanece jogando contra. Em Belo Horizonte, até sexta-feira (21/01) apenas de 23% das crianças com comorbidade haviam se vacinado.

Adiamento das aulas para avançar na vacinação infantil e medidas restritivas para frear o aumento de casos

Até o momento, mesmo com as dificuldades do avanço na vacinação das crianças, a disparada de casos de covid-19, o sufocamento do sistema de saúde, com índices de enfermaria e UTIs no vermelho e o esgotamento de vagas pediátricas no Hospital João Paulo II, o prefeito Alexandre Kalil e sua equipe de Enfrentamento ainda não anunciaram qualquer restrição sobre a volta as aulas nas escolas municipais de Belo Horizonte.

No Boletim Epidemiológico publicado diariamente pela PBH, o índice que indica o critério para abertura e fechamento das escolas do município é o Matriciamento de Risco (MR). No último boletim, o MR referente ao dia 20/01 estava em 68%, o que indica recomendação de retorno total das atividades para crianças e adolescentes até 18 anos de idade.

Até o momento não há qualquer debate sobre a suspensão de qualquer atividade a econômica, suspensão de eventos em locais fechados, presença de público em estádios de futebol e até mesmo sobre a realização de eventos privados ou não durante o carnaval.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, o comitê de enfrentamento da Covid-19 deve se reunir na próxima quarta-feira (26/01) para decidir sobre recomendações de medidas de restrição na cidade.

Para o Sind-REDE/BH, o entendimento é o mesmo de sempre: Vidas em primeiro lugar.

Para isso, algumas medidas precisam ser tomadas nas Escolas:

  1. Atrasar o retorno presencial das atividades letivas;
  2. Acelerar a vacinação das crianças;
  3. Tornar obrigatória a apresentação do cartão de vacinação de estudantes e trabalhadores;
  4. Ter uma ação direcionada para os que se negarem a vacinar;
  5. Garantir máscaras N95 ou PFF2 aos trabalhadores para atuarem presencialmente;
  6. Instituir um plano de testagem por amostragem de forma regular, para que haja de fato o controle da evolução pandêmica. No caso da Ômicron isso é ainda mais necessário visto o aumento dos casos assintomáticos.

Diretoria Colegiada Sind-REDE/BH