Mesmo obedecendo protocolos, retorno às aulas tem provocado surtos de Covid-19 onde foi implementado

Temendo onda de infecção dentro das unidades, escolas são obrigadas a suspender atividades presenciais

Alunos na escola particular de Manaus (AM). Protocolo não foi suficiente para impedir a contaminação de 342 professores. Foto: Divulgação

A avaliação sobre qual é o momento certo para a reabertura das escolas não é simples e tem provocado polêmica em todo o mundo. Se por um lado a falta de políticas públicas emergenciais não permitem que os pais permaneçam em casa para ficar com seus filhos e a restrição da socialização tem gerado diversos problemas para a formação das crianças e adolescentes, por outro na maioria dos locais onde se tentou um retorno às atividades presenciais, mesmo com todos os cuidados, os casos de Covid-19 explodiram.

Em Belo Horizonte, a Prefeitura divulgou no início dessa semana (17/11) um protocolo com normas para a retomada das aulas presenciais nas escolas de ensino fundamental, médio e nas universidades.

O documento não definiu uma data para o retorno, mas estabelece regras como o número máximo de 12 alunos por sala, distanciamento de dois metros entre estudantes, escalonamento de dias e horários, realização de aulas ao ar livre, uso obrigatório de máscaras, permanência de material escolar nas instituições e desinfecção dos ambientes a cada turno. Do ponto de vista estrutural serão desativados os bebedouros com jato inclinado e instalados equipamentos para coleta de água em garrafas individuais além da instalação de pias para cada grupo de 15 alunos, com distanciamento de um metro entre elas ou divisórias de acrílico.

Para acessar o protocolo completo, com todas as regras relativas ao uso de espaços comuns, como parquinhos, bibliotecas, banheiros, laboratórios, salas de professores e regras específicas para Educação Infantil, Ensino Médio, Superior, transporte escolar e para pessoas em grupos de risco. Acesse o documento da prefeitura no botão abaixo.



Mas será que todos esses cuidados serão suficientes para manter os trabalhadores, estudantes e seus familiares seguros de um novo surto de Covid-19?

Embora não tenha sido apresentada uma data para o retorno, o Sind-REDE/BH recebe com preocupação a apresentação do protocolo de retorno às aulas, justamente na semana em que a curva epidemiológica de Covid-19 voltou a crescer em Belo Horizonte. Segundo o último boletim publicado, que considera os casos até o dia 14 de novembro, são 51.194 casos confirmados e 1.566 mortes pela doença. A taxa de transmissão (Rt), que estava em queda até o último boletim (0,99) alcançou o maior índice desde o dia 30 de junho deste ano, chegando a 1,12 novos infectados por pessoa contaminada. O índice faz com que Belo Horizonte retorne ao alerta amarelo com a subida de casos.

Retorno às aulas tem gerado aumento de casos onde foi implementado

Confirmando as previsões dos infectologistas, mesmo em cidades que apresentavam períodos de queda ou longa estabilidade na taxa de transmissão, o retorno das atividades presenciais significou um aumento brusco nos casos.

Um estudo feito pela Fiocruz estima que a volta às aulas pode expor ao vírus cerca de 9,3 milhões de brasileiros, com problemas crônicos de saúde e que pertencem a grupos de risco de Covid-19. O levantamento aponta que estudantes que convivem na mesma casa com pessoas com esse perfil, podem levar o vírus para seus familiares.

São Paulo

Três colégios particulares de São Paulo tiveram de suspender as atividades presenciais diante contaminações por Covid-19 ocorridas após o retorno às aulas autorizado pelos governos de João Doria e Covas, há cerca de 40 dias. As escolas registraram vários casos de coronavírus entre alunos, professores e funcionários.

Segundo informações do jornal Folha de São Paulo, a suspensão foi informada nas escolas Graded School, do Morumbi, Gracinha, no Itaim Bibi, e São Luís, na Vila Mariana. Todas em regiões nobres da cidade, frequentadas pela elite paulistana.

No início de novembro, o prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB) e o governador do estado João Doria (PSDB) liberaram a volta às aulas do Ensino Médio. No Ensino Fundamental, foi autorizado apenas atividades extracurriculares. No caso das particulares, houve uma forte pressão por parte dos donos dos colégios privados.

Rio de Janeiro

Pelo menos três escolas que tinham retornado suas atividades recentemente, voltaram a fechar as portas como medida de segurança sanitária, ou ainda, realizaram ajustes em protocolos sanitários de proteção. Apesar da suspensão temporária, os donos das escolas particulares continuam defendendo o retorno das aulas.

Uma das escolas que retomou ao recesso, temporariamente, foi o Colégio Teresiano, na Gávea, no Rio de Janeiro. Seguem suspensas as atividades presenciais até o dia 23/11.

O governador em exercício Claudio Castro (PSC) havia liberado o retorno das aulas nas escolas particulares, em caráter facultativo a partir do dia 14 de setembro, porém, o Sepe/RJ conseguiu uma liminar proibindo o retorno das aulas até que os docentes e estudantes fossem vacinados contra a Covid-19. A Prefeitura e o governo recorreram e derrubaram a liminar em segunda instância.

Manaus

No dia 10 de agosto, 106.294 mil alunos do Ensino Médio da rede estadual de ensino do Amazonas começaram uma experiência de retorno às aulas na capital. Menos de duas semanas depois, o governo testou 1.064 professores que estavam trabalhando nessas escolas e o resultado fez com que o governador Wilson Lima (PSC) desistisse do plano de retorno do Ensino Fundamental: quase um terço desses professores (342) testaram positivo para o Novo Coronavírus.

Flexibilização em outros países

França

Em maio, com o relaxamento do lockdown na França, algumas escolas puderam abrir de forma voluntária, sem exigir a presença dos alunos. Logo após a abertura, no entanto, foram registrados pelo menos 70 casos de Covid-19 e algumas escolas chegaram a ser fechadas. Também foi observado que o retorno das atividades não diminuiu a desigualdade no ensino, já que a maior parte dos alunos que retornaram para as escolas eram de alta renda.

Coreia do Sul

Na Coreia do Sul, país que vem sendo considerado referência no combate ao Novo Coronavírus, mais de 200 escolas tiveram de ser fechadas logo após a retomada das aulas devido a surtos da doença na capital Seul.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, país com maior número de casos do Novo Coronavírus em todo o mundo, alguns estados começaram a reabrir suas escolas já em agosto. Como Tennessee, Georgia, Kentucky, Indiana e Mississipi. Em um distrito de Georgia, onde a máscara não é de uso obrigatório, mais de 800 alunos e funcionários tiveram de ser colocados em quarentena apenas uma semana após a reabertura das escolas.

Ano letivo se recupera, vidas perdidas, não!

O Sind-REDE/BH defende que ano escolar se recupera, vidas perdidas, não. Por isso, é contra o retorno das aulas presenciais em meio à pandemia da Covid-19. A vida precisa estar em primeiro lugar.

O Sindicato defende que as aulas presenciais permaneçam suspensas até que todos os trabalhadores e estudantes sejam vacinados contra a Covid-19 ou até que se demonstre, concretamente, por meio de estudo técnico ou de outro modo, que não existem riscos aos alunos, professores e à sociedade. Junto a isso, também é necessário que seja garantido o pagamento dos salários e benefícios dos trabalhadores em Educação durante todo o período de necessário isolamento, por isso se posiciona contra os cortes realizados pela Prefeitura.