Kalil anuncia retorno presencial do ensino fundamental e mais flexibilizações

Plano da prefeitura inclui retorno às aulas presenciais para crianças de 6 a 12 anos e ignora alta taxa de infecção e ocupações de leitos na cidade.

Kalil faz malabarismo ao afirmar que flexibilização se baseia nos índices da pandemia na cidade. Foto: Reprodução/Youtube

Durante a coletiva de imprensa realizada na última quarta-feira (09/06), Kalil anunciou uma nova fase da flexibilização das medidas sanitárias contra a Covid-19 que inclui o retorno às aulas presenciais para crianças de 6 a 12 anos.

Mais uma vez, a contradição marca a administração municipal. Em um prazo de 15 dias, a Prefeitura mudou a política de retorno das atividades presenciais nas escolas três vezes. Primeiro disseram que a abertura seria para as crianças de até 9 anos; depois recuaram, afirmando que não fariam o retorno do ensino fundamental antes de agosto e agora expandem a abertura para crianças de até 12 anos para o dia 21 deste mês.

Além da expansão do retorno presencial nas escolas, a medida ainda flexibiliza regras e horários de funcionamento dos bares e restaurantes da cidade e outras medidas para o comércio.

Segundo a Prefeitura, a reabertura é baseada nos números de controle da pandemia, sendo os principais deles: o número de contaminados por 100 mil habitantes; a taxa de infecção e a vacinação dos trabalhadores em educação com a primeira dose da vacina Oxford/Astrazeneca, produzida pela Fiocruz.

Porém, observando os gráficos divulgados pela própria Prefeitura em seu Boletim Epidemiológico, não há qualquer melhoria nos índices que permitam que esse tipo de flexibilização aconteça.

O índice de infectados por 100 mil habitantes está em 418,9. Mais de 20 vezes maior do que a faixa de baixo risco determinada pelo Comitê de Enfrentamento à Covid. Em nenhum momento, desde o início da flexibilização a média atingiu um índice menor do que 400. Confira abaixo:

Apesar do número médio de transmissão por infectado (RT) estar na faixa verde, o número ainda é muito alto, pois permanece próximo de 1 (faixa amarela). O que se reflete na taxa de ocupação dos leitos de UTI, que se encontra próximo de 80% (faixa vermelha) e de enfermaria, próxima dos 60% (faixa amarela). A situação é ainda mais preocupante na rede pública, onde a taxa de ocupação de leitos de UTI está em 84,1%. Esses números são ignorados pela Prefeitura em sua justificativa.

Outro dado omitido por Kalil e o seu governo é que o número de internações têm crescido, mesmo que a porcentagem indique uma estabilidade alta. Isso porque quase metade dos 1.045 leitos de UTI para Covid-19 disponíveis em BH (considerando toda a rede SUS e privada), foram abertos a partir do mês de março de 2021.

Como acontecerá o retorno

De acordo com anúncio, o atendimento presencial às crianças de 6 à 12 anos será realizado em microbolhas de seis crianças que irão às escolas duas vezes por semana. O atendimento remoto será mantido, ou seja, será adotado o modelo híbrido.

Na entrevista coletiva, o secretário de saúde afirma que a data do dia 21 foi considerada por cumprir o tempo da janela imunológica da primeira dose da Astrazeneca.

No entanto, a Prefeitura também ignora que a imunização só está completa depois de tomadas as duas doses da vacina e que é preciso respeitar o tempo mínimo de duas semanas após a segunda dose para que o ciclo de imunização faça efeito. Em Belo Horizonte, muitos professores ainda aguardam para tomar a primeira dose da vacina da Covid-19, pois a campanha de vacinação da gripe aconteceu de forma simultânea para os trabalhadores em educação. A recomendação do Ministério da Saúde é que haja ao menos 14 de dias de intervalo entre a vacina contra gripe e contra a Covid-19.

Além disso, até o momento não está claro quais serão os procedimentos sanitários de proteção dos trabalhadores e principalmente das crianças e suas famílias que não estão vacinadas.

De acordo com o decreto, está autorizado o funcionamento com microbolhas do primeiro ao sétimo ano do Ensino Fundamental. Até o fechamento deste informe, nenhum decreto ou portaria convocando os trabalhadores do município ao trabalho presencial foi publicado. Isso deve acontecer nos próximos dias.

Também não foram prestados esclarecimentos sobre como será a dinâmica de trabalho, sobre como os trabalhadores dentro de sua jornada de trabalho conseguirão manter o atendimento de forma híbrida e quais serão os espaços possíveis de atendimento para cerca de 70 bolhas, por dois dias na semana.

Porque somos contra a reabertura neste momento

O posicionamento contrário a reabertura das escolas, mesmo que os trabalhadores em educação estejam vacinados com a primeira dose, se faz por vários motivos:

  1. Os índices de contaminação da pandemia estão longe de ser controlados.
  2. A previsão de uma terceira onda não é refutada por nenhum epidemiologista. Abrir mais a cidade, incluindo as escolas, favorece e acelera esse processo.
  3. A ampla maioria da comunidade escolar não está vacinada, nem com a primeira dose.
  4. Mesmo com a baixa adesão ao retorno presencial (menos de 30% das crianças), 83 casos de Covid-19 já foram registrado nas EMEI’s que estão atendendo presencialmente, desde a reabertura.
  5. As experiências da reabertura da Educação Infantil mostraram o que já sabíamos, não é possível cumprir os protocolos.
  6. Os trabalhadores em educação garantiram até aqui o atendimento remoto às famílias com sua própria estrutura, não terão condições de continuar a fazê-lo.

Dessa forma, reforçamos mais uma vez nossas reivindicações:

  • Garantia de pontos de internet em todas as comunidades escolares;
  • Garantia de estrutura tecnológica para estudantes e trabalhadores em educação para que o atendimento se dê com qualidade;
  • Garantia de estrutura para acompanhamento virtual das famílias e estudantes de maior vulnerabilidade social;
  • Vacinação ampla para todos já.

Reforçamos a convocação para que os trabalhadores em educação concursados participem da Assembleia Geral que irá se realizar no dia 15/06, às 14h30. Clique na imagem abaixo para se inscrever.


Comando de Greve dos Trabalhadores em Educação da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte Concursados