Uma situação completamente nova, que afeta, mesmo que em proporções diferentes, toda a população mundial, como é o caso da Pandemia do novo Coronavírus, exige de toda a sociedade espaços amplos de debates e troca de informações, para que sejam pensadas soluções coletivas para problemas coletivos.
Nesse sentido, o Sind-REDE/BH realizou nesta semana o II Seminário Educação em Tempos de Pandemia, o seminário acontece mais uma vez em ambiente virtual, para se adaptar as necessidades do momento. Através de painéis temáticos realizados através de transmissões ao vivo no Youtube e Facebook, Grupos de Discussão e Trabalho pela plataforma Google Meets e, também, um espaço de construção e deliberação de propostas, através da Plenária Final que acontecerá amanhã (04/09), pelo aplicativo Zoom Reuniões, o seminário reuniu mais de 600 participantes ativos que levantaram questões que permeiam não só a realidade dos trabalhadores Educação de Belo Horizonte, mas toda a população brasileira. Com uma preocupação especial à acessibilidade, todos os painéis transmitidos ao vivo contaram com interpretes de Libras e permanecerão disponíveis nas redes sociais do Sindicato, você também pode acessá-las na lista de reprodução abaixo:
Espaços como este colaboram para a formação crítica dos trabalhadores, ao abordar temas como o controle de informação, a exclusão digital e a reorganização das famílias em um cenário em que a escolas permanecem fechadas. Nesse contexto, ainda o seminário chamou a atenção especialmente para a saúde mental dos sujeitos que compõem a comunidade escolar, tanto os trabalhadores em educação, que tem que lidar com a pressão social de buscar alternativas para o trabalho em um cenário de pandemia, quanto a ansiedade das crianças e seus responsáveis, em lidar com as dificuldades de acesso e a sensação de “estarem ficando para trás”.
Essa pressão se intensifica pela “indústria do ensino”, que na busca por justificar a contínua cobrança de mensalidade, tem empurrado soluções fracassadas como a EAD e o ensino remoto. Essas soluções não podem ser consideradas nem sequer paliativos, mas sim verdadeiros engôdos, pois resumem o ambiente escolar ao simples repasse de conteúdo, como se o único aprendizado adquirido nas escolas fossem oriundos dos materiais didáticos. Essa pressão, contagiada pelo ambiente competitivo da sociedade capitalista, faz com que governantes ignorem as desigualdades, e tentem implementar o ensino remoto a qualquer custo, através de parcerias com empresas privadas que prometem substituir o ensino presencial com as suas ferramentas, mas que na prática tem apenas permitido a transferência de recursos públicos para essas instituições, sem qualquer garantia de resultados.
Se posicionar contra o retorno das aulas, até que existam possibilidades seguras para que isso aconteça, não significa porém, que os trabalhadores em Educação se furtem aos debates que circundam o tema. Se é consenso que a atual conjuntura se assemelha a um ambiente de guerra, cabe a escola discutir esse momento, pensar qual papel deve ser ocupado no contexto que se abre com a pandemia, mesmo entendendo que este é um contexto temporário. É preciso acompanhar a situação das famílias e encaminhar à assistência social os casos mais graves de vulnerabilidade.
É importante destacar que, a despeito do que tem sido propagandeado, a nova realidade não é de, forma alguma, “o novo normal”. Não se pode normatizar, mas sim buscar alternativas para que essa realidade seja superada e transformada pela humanidade, através de saídas coletivas.
O primeiro passo a ser tomado deve ser tranquilizar a comunidade escolar, convencer as famílias de que a escola não é uma competição, ou uma corrida. As crianças não vão ficar para trás. Neste sentido, o conteúdo formal de 2020 deverá ser reorganizado em 2021 e 2022. As formas como isso irá acontecer devem ser debatidas de forma cuidadosa por todos os sujeitos envolvidos, a “aprovação” pode se dar por decreto ou pode haver a extensão de mais um ano. Os anos finais precisarão de tratamento especial, não há dúvidas, porém tudo só será resolvido com medidas que permitam que a saúde de todos não será posta em risco.
O maior empecilho, o que continua gerando desvantagens aos mais pobres é o sub-investimento na educação e o desvio de recursos públicos para instituições privadas. O Governo Federal e o MEC, na contramão das exigências do momento, ignoram seu papel na coordenação das políticas educacionais em articulação com os entes federados e ratificam sua política de desmonte do setor educacional ao desconsiderar o PNE e não anunciar políticas e ações estratégicas para educação, setor que flagrantemente tem sido penalizado por cortes orçamentários e outras medidas restritivas, nos últimos anos.
Mesmo a pequena vitória da aprovação do novo Fundeb, que ganhou caráter permanente, manteve a permanência do Custo Aluno-Qualidade (CAQ) e uma maior participação da União, só aconteceu porque houve muita luta dos movimentos da Educação, enquanto o governo Federal tentava, a todo momento, criar empecilhos e dificuldades para a sua aprovação.