No último sábado (24/07), pesquisadores de todo país perderam o acesso à base de dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), incluindo as bases Lattes, que contém os dados curriculares de mais de 7 milhões pesquisadores de todo o Brasil e da base Carlos Chagas, responsável pelos dados de todos os projetos apoiados pelo CNPq.
A permanência do apagão por todo o fim de semana gerou preocupação nos pesquisadores, o que foi agravado pela falta de pronunciamento mais detalhado da direção do Conselho, que apenas publicou por meio de um tuíte que “o problema estava sendo resolvido”. A falta de transparência motivou o surgimento de questionamentos e teorias sobre a integridade da plataforma e insegurança em relação ao pagamento de bolsas e possibilidade de perda definitiva de dados.
Em meio a crise que se estabelecia entre os cientistas brasileiros, que permaneciam sem uma posição oficial sobre a previsão de reestabelecimento da plataforma e integridade dos dados, o Ministro da Ciência e Tecnologia do governo Bolsonaro, Marcos Pontes, parecia mais preocupado em tentar justificar as fotos que tirou com uma deputada alemã de extrema direita Beatrix von Storch, neta e herdeira política do ex-ministro das Finanças da Alemanha nazista de Hitler.
Só na quarta-feira (28/07), o presidente do CNPq, Evaldo Ferreira Vilela, deu as caras para prestar esclarecimentos sobre o “Apagão de dados”, inicialmente através de um pronunciamento nas redes sociais oficiais da entidade e posteriormente em um vídeo postado ao lado do Ministro.
Vilela afirmou se tratar de um problema técnico, devido à uma peça defeituosa no servidor que já estaria sendo substituída e que o problema levaria cerca de 48h para ser resolvido. Apesar do prazo já ter passado, até o fechamento desta matéria o sistema ainda permanece fora do ar. Confira o pronunciamento oficial logo abaixo:
Cortes na Ciência e na Educação são os reais motivos para o apagão
Para pesquisadores e bolsistas de todo o país, o problema central do “apagão do CNPq” está no amadorismo, falta de liderança e, principalmente, desinvestimento nas áreas da Educação, Ciência e Tecnologia.
É certo que problemas técnicos podem acontecer, porém, informações divulgadas pelo próprio CNPq indicam que o sistema não passava por manutenções preventivas desde 2018, que o Conselho não mantém peças de reposição disponíveis, como o caso da Placa que gerou o apagão, e que não há sequer um Seguro ou contrato de manutenção vigente para o manter a integridade do sistema.
Para a diretoria do Sind-REDE, a Pandemia escancarou que os investimentos públicos de longo prazo em Ciência, Tecnologia, Educação e Saúde são essenciais para salvar vidas em momentos de crise. Mas estes setores tem sofrido cortes frequentes ano após ano e isso tem acontecido com mais intensidade desde o início do governo Bolsonaro.
O próprio CNPq anunciou, em abril deste ano, que só teria verba para pagar cerca de 13% das bolsas aprovadas em 2021, levando milhares de cientistas a se verem obrigados a desistir de projetos de pesquisa (novos ou em andamento) essenciais para o desenvolvimento do país. Junto a isso, cortes nas universidade de todo o Brasil tem impedido o planejamento do retorno presencial, por falta de verbas discricionárias até para pagamento de água e luz.
Na Educação Básica, mesmo com os desafios da pandemia que exigiam investimento em infraestrutura e informatização das escolas, o Governo Bolsonaro fechou 2020 com o menor dinheiro em Caixa desde 2011, um retrocesso de quase 10 anos. Além de receber menos verba, a pasta devolveu cerca de R$ 1 bilhão aos cofres públicos, por não utilizar todo o recurso disponível. Bolsonaro ainda vetou um projeto que visa financiar internet para escolas e estudantes carentes sem acesso e, ao ter o seu veto derrubado pelo Congresso Nacional, foi ao STF para tentar impedir a sua implementação.
Aos defensores, que afirmam que o problema é a falta de recursos e os gastos com a Pandemia, ressalta-se que o governo não tem medido esforços para comprar o apoio do centrão, com a aprovação do Fundão eleitoral, emendas, tratoraços e orçamentos paralelos que bancam “verbas de custeio” de deputados nos estados.