No último mês aumentou a pressão pelo retorno as aulas, tendo como base, dentre outras coisas, as novas teorias sobre a possibilidade de contaminação das crianças e adolescentes e sua capacidade de transmissão sendo divulgadas por pediatras, muito estimuladas pelos donos das instituições privadas de ensino.
O governo de São Paulo chegou a afirmar que as escolas serão reabertas em fevereiro independente das condições sanitárias. Em uma volta pelo mundo vemos experiências variadas. Mas todas elas se baseiam na redução da taxa de transmissão (RTs); em um controle razoável da pandemia com rastreamento dos casos através da realização massiva de testes, o que não acontece no Brasil; além de condições físicas, materiais e humanas nas escolas para que protocolos sejam seguidos, o que terá uma eficácia duvidosa tendo em vista as condições já tão precárias de grande parte das escolas em nosso país.
É preciso que especialistas deixem claro, caso sejam possíveis cumprir todos os protocolos sanitários, com qual percentual de atendimento é seguro o retorno as aulas. Seriam 30%, 50% ou 80% do total de alunos? Sob quais condições? O cumprimento dos protocolos estabelecidos é possível com crianças e adolescentes?
Irresponsável é o mínimo que se pode dizer da postura de determinadas autoridades públicas ao fazer a defesa da abertura das escolas sem controle das condições sanitárias. A vacinação é determinante para qualquer retorno. Estamos falando de vidas, cada uma das 180.000 pessoas que morreram tinha nome, identidade, família, seja consanguínea ou por afetividade.
Entendemos, mais do que ninguém, os problemas sociais, econômicos e pedagógicos gerados pela ausência das escolas. Políticas públicas precisam ser estabelecidas para minimizar estes problemas e nós, trabalhadores em educação, somos parte do corpo de trabalhadores envolvidos nesse processo. Temos que propor atividades lúdicas, interativas; que possam ser realizadas pelas crianças e adolescentes em seus ambientes domésticos; que não representem aumento do stress e da tensão familiar; temos que tentar manter contato com as famílias e crianças para acompanhar a situação pedagógica e social; temos que ter um canal junto a outras instituições da Prefeitura para informar situações que necessitem de intervenções diversas.
Cabe aos governos realizarem os deveres de casa: através de ações que minimizem a exclusão digital; mantendo e ampliando os produtos da cesta básica de acordo com o tamanho das famílias; criando uma ajuda de custo de cuidado para as famílias com crianças até 14 anos e preparando as escolas estruturalmente para o momento que houver condições de retorno. Pois mesmo com a vacinação, ainda teremos um longo caminho até estarmos totalmente seguros.
No momento, o retorno, mesmo que de pequenos grupos, é arriscado demais e terá uma eficácia pedagógica e social que não justificam o risco. Entendemos o receio de alguns professores (apesar do grupo que está pedindo o retorno ser muito minoritário) de perder o emprego e a situação dos donos de escolas particulares que veem seus negócios ameaçados, mas a solução para estes problemas não é colocar crianças e familiares em risco.
Estamos no momento de fechar mais e não abrir mais. Compreendemos a preocupação dos responsáveis pelas crianças, mas o momento não é de pressionar por reabertura e sim, pressionar por mais testes e vacinação.
No início de fevereiro os trabalhadores da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte realizarão nova assembleia para definir os rumos da categoria diante do posicionamento do governo municipal e demais instituições.
Diretoria Colegiada Sind-Rede/BH