Documento às Comissões Escolares de Retorno às Atividades Letivas presenciais nas Escolas Municipais de Belo Horizonte.
Caros amigos,
Desculpem a demora em elaborar esta carta. Gostaríamos de pontuar aqui algumas questões que nos parecem importantes de serem observadas.
Mesmo que todas as condições físicas e materiais estiverem resolvidas nas escolas, dentro dos limites da realidade das escolas brasileiras, não teremos condições de cumprir com alta eficácia os protocolos pelos motivos listados abaixo:
- Não temos como garantir que os estudantes de idades distintas farão uso correto das máscaras desde o momento que saem de casa, durante o período que estarão dentro das escolas e no retorno.
- Não temos como impedir, em sua totalidade, o contato entre os estudantes e a troca de objetos.
- Não temos como garantir a higienização do vestuário dos estudantes, que podem sair de casa com elas já contaminadas ou serem contaminadas no trajeto até as escolas.
- Não temos como garantir a correta higienização das mãos ou impedir que elas sejam levadas à boca, nariz e olhos, por todo o período de permanência nas escolas.
- Não temos como garantir a devida separação e higienização do banheiro a cada necessidade real de estudantes ou grupo de estudantes
Por estes elementos, afirmamos que as escolas não podem ser reabertas até que haja o controle da pandemia. Até que a prefeitura garanta testagem eficaz de toda a população e da comunidade escolar. Todos os estudos apontam para a ampliação da vacinação como única forma significativa de controle da pandemia.
Mas, mesmo após o controle da pandemia, muitas questões ainda deverão ser observadas e é sobre elas que tratamos abaixo:
- A escola dispõe de máscara em quantidade e tamanhos adequados a todos os estudantes e trabalhadores? (duas por dia).
- Foram instaladas pias próximas ou dentro de todas as salas de aula, nos espaços abertos, na entrada, nos banheiros, em quantidade suficiente para a higienização das crianças? (Uma a cada dez estudantes).
- Existe previsão de fornecimento de álcool em gel o suficiente para que, a cada 30 min, todo trabalhador ou criança faça a higienização das mãos?
- As escolas são verticais ou horizontais? Qual a largura dos corredores?
- Quantas bolhas, com 10 ou 12 estudantes, das idades que frequentam a escola, cabem nos espaços abertos das escolas em um único horário?
- Os espaços abertos das escolas são cobertos?
- Existe circulação de ar adequada nas salas de aula?
- As janelas podem ser mantidas abertas? E nas estruturas expostas ao sol? O que fazer quando as janelas estiverem localizadas próximas aos espaços externos? Isso não os impediria de ser utilizado ao mesmo tempo que houver aula?
- Todas as salas de aula tem acesso fácil aos banheiros?
- Quantas portarias de entradas poderão ser instaladas para que haja entrada simultânea de estudantes, sem gerar aglomeração?
- Qual o quantitativo de trabalhadores da limpeza por metro quadrado? Qual o quantitativo de estudantes? Lembramos que a necessidade de higienização será muito ampliada, pois será necessária a higienização das escadas, corredores, banheiros, espaços abertos e salas de aulas a cada vez que um agrupamento de estudantes utilizar ou passar por determinado espaço.
- Qual o número de trabalhadores para atender as duas ou três portarias caso sejam abertas?
- Quantos adultos estarão responsáveis pelos agrupamentos de crianças, de cada uma das idades atendidas nas escolas? Existe quantidade adequada para garantir, ao mesmo tempo, o distanciamento e o atendimento aos estudantes em suas demandas específicas? Lembramos que será necessário vigiar o comportamento, trabalhar o conteúdo próprio da escola, auxiliar no uso correto do banheiro, trocar roupas e fraldas, alimentar, ajudar a higienização adequada, entre diversas outras tarefas.
- Qual o protocolo para o caso de algum estudante ou trabalhador manifestar sintomas gripais ou específicos de COVID-19?
Levantamos estes elementos a partir do estudo detalhado dos protocolos da própria Prefeitura e de outras instituições como Fiocruz e OMS. Levando em consideração, é claro, toda a nossa experiência cotidiana nas escolas, que nenhum protocolo sanitário tem condição de explicitar.
Queremos muito um retorno presencial às escolas, mas queremos um retorno seguro.
Não queremos que nenhuma de nossas escolas seja a prova de que a experiência não deu certo. Sabemos bem que, se de 100 escolas, uma tiver um surto ou a morte de uma criança, não vale a pena correr o risco. Mas, o mais grave é que todas as informações apontam para o aumento das contaminações, internações e morte de crianças.
Vidas em primeiro lugar,
Grande abraço.
Atenciosamente,
Diretoria Colegiada do Sind-REDE/BH