Seis motivos para se posicionar contra o retorno das atividades presenciais em março

Vacinação é primordial para um retorno com segurança. Sindicato alega que imposição do retorno em março pode acarretar em greve da categoria.

Os trabalhadores em Educação da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte tem se posicionado de forma contrária possibilidade de retorno às atividades presenciais nas Escolas de Belo Horizonte, no mês de março e pode definir por uma greve caso haja imposição por parte da Prefeitura.

Para os trabalhadores em educação o retorno às atividades sem vacinação é um problema de grande magnitude, por uma série de motivos práticos. O desafio de reabertura de forma segura é imenso e observando a experiência de outros países, é preciso manter os dois pés atrás para qualquer iniciativa que não coloque a vida em primeiro lugar.

Levantamos aqui de forma mais objetiva possível porque é inaceitável a definição, a priori, de reabertura das escolas em Março. Confira abaixo:

1. Os números da pandemia estão em alta

Não há qualquer indício de que a Pandemia está “controlada”, muito pelo contrário. O Brasil se encontra no auge da segunda onda de contágio e Belo Horizonte tem apresentado alta nos índices Transmissão e ocupação de leitos desde o mês de novembro de 2020, chegando a um de seus piores índices no dia 15 de janeiro.

2 – Contaminação de crianças tem crescido

Embora a porcentagem geral de internação e mortes de crianças pela Covid-19 seja inferior às de adultos, este número tem crescido muito nos últimos meses. Ainda é preciso avaliar com mais cuidado se este fenômeno é fruto das novas cepas e mutações do Coronavírus ou se são um reflexo do relaxamento das medidas de isolamento dos pequenos. Portanto, toda prudência é pouco.

3 – Quem conhece a realidade das escolas da cidade sabe que é impossível cumprir os protocolos

Os protocolos estipulados pela Fiocruz e demais instituições científicas, ou mesmo as medidas definidas pela Prefeitura de Belo Horizonte, não se adequão a infraestrutura das Escolas e do trabalho docente.

“Estamos alertando aos médicos e ao Ministério Público. Os trabalhadores em Educação não aceitarão a responsabilidade pelo que pode acontecer com o retorno as aulas nesse momento, pois não há como cumprir os protocolos nas escolas no Brasil”, argumenta o Sind-REDE/BH.

4. Falta estrutura e trabalhadores o suficiente

Para que os protocolos fossem cumpridos a rede física teria que, no mínimo, dobrar de tamanho. Para atender as crianças com a segurança necessária, o número de trabalhadores em Educação teria que ser triplicado.

Além disso, seria preciso uma grande campanha de conscientização para que a população tome todos os cuidados necessários para prevenir a COVID 19, já que enfrentamos um arsenal de propaganda incentivada de forma extraoficial pelo próprio Governo Federal, contra todas as medidas de bio-segurança.

5 – Reabertura das Escolas, nas atuais condições, não resolveriam as desigualdades da pandemia.

A Pandemia ampliou o fosso da desigualdade de acesso à Educação no Brasil. Mas, sem a vacina, o retorno presencial não contribuirá para amenizar esse desigualdade. A escola não dará conta do cuidado das crianças, para que os pais possam trabalhar, não será possível intervir nas vulnerabilidades sociais e alimentares as quais as famílias das crianças e adolescentes estão submetidos.

O aumento dos distúrbios psicológicos gerados pela pandemia não serão resolvidos com a abertura de escolas que limitam o contato físico e social entre as crianças mais jóvens.

6 – Retorno em março aumentaria o risco para toda a sociedade.

O retorno das atividades presenciais não coloca em risco só as crianças, mas toda a sociedade. Existem muitos trabalhadoresem Educação com comorbidades graves, que não poderiam retornar aos seus postos de trabalho.

Além disso, a volta as aulas movimenta a cidade, aumentando o número de pessoas nas ruas e nos transportes coletivos. É preciso se uma atenção especial aos trabalhadores e estudantes que moram com pessoas do grupo de risco. Não dá pra esquecer que cada família pode ter vários filhos em idade escolar, que terão contatos com turmas diferentes e podem se contaminar entre si, levando a uma nova explosão de casos.


Um programa para enfrentar a pandemia

Em função de tudo isso os trabalhadores em Educação defendem que o retorno das atividades presencias nas Escolas só aconteça após uma ampla vacinação. E apresentam um programa de enfrentamento a pandemia para o momento atual.

  1. Aplicação de recursos em tecnologia para redução da exclusão digital. Pontos de internet, computadores, para estudantes e trabalhadores.
  2. Ampliação do número de trabalhadores em Educação para garantir atendimento remoto personalizado para cada família e estudante.
  3. Criação de micro espaços de convivência de crianças e adolescentes dentro das comunidades, de forma que não haja cruzamento de contato de grupos de microcomunidades distintas.
  4. Garantia de celulares para os trabalhadores em Educação, para que possam acompanhar cada criança, adolescente ou adulto. Acompanhamento sócio-econômico e pedagógico.
  5. Aporte para aquisições de suportes eletrônicos com recursos extras para a Educação.
  6. Não ao desvio de recursos da Educação para contratos com empresas de plataformas de conteúdo. Temos trabalhadores especializados, pagos com dinheiro público para fazer este serviço.
  7. Estruturar o retorno o quanto antes. A escola da volta precisa ter mais tecnologia, mais trabalhadores e agrupamentos menores de estudantes.
  8. A dificuldade de cada estudante deve ser estudada, não é possível considerar que o conteúdo trabalhado durante a pandemia tenha sido vencido.
  9. Tudo isso envolve priorizar a Educação, valorizar a Educação, a Escola e os seus trabalhadores.
  10. Mais medidas sociais de segurança alimentar.
  11. É necessário a todos aqueles que dizem acreditar nisso, que sejam mais efetivos em suas exigências.
  12. Ouçam os professores e demais trabalhadores em Educação. É necessário que o Ministério Público, os médicos e demais profissionais que hoje defendem a reabertura das escolas nos ouçam. Se vão apostar nisso, pelo menos façam aos governos as exigências necessárias que estão longe de serem atendidas.