Após dois atentados com vítimas fatais em escolas em menos de duas semanas no Brasil, o alerta vermelho sobre a crise de violência nas escolas ultrapassou os seus muros, tornando-se um dos principais temas de debate social no país.
Além dos casos que chegaram as vias de fato, centenas de ameaças têm aparecido nas redes sociais, muitas delas falsas, aumentando o pânico e o medo entre os trabalhadores em educação, estudantes e comunidade escolar, que se veem impotentes diante da situação. A espetacularização da violência, característica contemporânea da sociedade brasileira, é potencializada pela dinâmica do Whatsapp onde informações correm livremente com pouca possibilidade de averiguação.
É recomendado ter cuidado, pois o pânico e o medo criado por essa dinâmica incentivam soluções autoritárias, que têm pouca ou nenhuma efetividade para o combate efetivo da violência no ambiente escolar. Não é com o aumento da repressão aos jovens, militarização das escolas, redução da maioridade penal, ou qualquer medida simplista que os casos deixarão de acontecer. Deputados bolsonaristas chegaram a defender absurdos como o armamento de professores como possível solução ao problema.
Por outro lado, a correlação dos últimos ataques e ameaças reais com grupos de ódio e a extrema direita articulados através das redes sociais é clara. Além do ataque realizado em São Paulo, protagonizado por um indivíduo que pregava o racismo, dois outros casos levaram jovens a ser apreendidos por apologia ao nazismo e ao terrorismo nos últimos 30 dias. Um deles no Rio de Janeiro, que contou inclusive com investigação em colaboração com a Interpol, levou a apreensão de um jovem de 17 anos, que publicava vídeos de apologia ao nazismo e ameaças de ataques no Youtube. Outro caso, em Maquiné, no Rio Grande do Sul, levou a apreensão de um jovem de 14 anos e a prisão de seus pais, após investigação da polícia civil que investigava uma célula nazista que se articulava na internet. A polícia chegou ao jovem que colecionava materiais de apologia ao nazismo, após prender um outro adolescente no Paraná que, segundo as investigações, orientava o atentado que deveria acontecer em uma semana.
Não dá pra descartar a correlação do aumento destes grupos de extrema direita com os quatros anos de discursos de ódio, falta de combate – e até incentivo – no governo Bolsonaro.
É preciso atuar na causa do problema, já que as características dos atentados vão muito além do contexto escolar. O combate a violência deve ser tratado com ações multidisciplinares, que vão desde o combate aos grupos que propagam discurso de ódio nas redes sociais, até ações que ampliem a democracia no interior das escolas, passando por medidas governamentais que desincentivem a espetacularização da violência na TV aberta e dificultem o acesso a armas de fogo.
O papel das polícias, nesse contexto deve ser o de garantir a segurança nas áreas próximas as escolas, mas de nenhuma forma o aumento da militarização. Ações de inteligência precisam ser executadas para coibir antecipadamente qualquer atentado e que policiais armados só adentrem às escolas em caso de algum ataque violento em curso.
Junto a isso, é preciso um trabalho cuidadoso em relação ao combate às notícias falsas para não incentivar o clima de pânico que desestrutura a comunidade escolar, além de fomentar novos casos, pelo conhecido “efeito contágio”. É sabido que, mesmo com uma boa intenção, ao compartilhar alertas sem qualquer averiguação, os resultados são os piores possíveis, pois incentiva o cancelamento de aulas, criação de políticas públicas equivocadas e aumento da violência, pois pode motivar estudantes a buscarem saídas individuais como irem armados para a escola.