Em meio à pandemia, R$ 1,2 trilhão aos bancos

Setor financeiro é o maior privilegiado pelo governo. Socorro aos bancos é 11 vezes maior que valor destinado aos mais pobres

Para combater os efeitos da pandemia do coronavírus no país, apesar do discurso do governo, não são os mais pobres que vêm recebendo a maior parte dos recursos públicos. O setor que vem sendo tratado com toda a atenção e carinho são os bancos que até agora já receberam a impressionante cifra de R$ 1,2 trilhão, além da aprovação de projetos que desviam ainda mais dinheiro público para o setor.

O dinheiro, que já foi disponibilizado aos banqueiros desde o dia 23 quando foi anunciado, equivale a 16,7% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, valor bem maior que o destinado após a crise econômica mundial de 2008, equivale a 3,5% do PIB na época. Para efeito de comparação, a estimativa de gastos do governo com o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais é de R$ 98 bilhões.

O valor de R$ 1,2 trilhão aos bancos foi direcionado via várias medidas financeiras, que repassam recursos às instituições a um custo baixo, reduzem alíquotas e depósitos obrigatórios que são feitos pelo setor, garantem empréstimos tendo como garantia dívidas dos próprios bancos, etc.

A destinação de tanto dinheiro tem a justificativa oficial de manter a “liquidez no sistema”, ou seja, a disponibilidade de recursos para que as instituições financeiras garantissem operações aos clientes principalmente neste período de crise (empréstimos e programas direcionados às empresas e pessoas físicas, por exemplo).

Mas, ao contrário, o único setor sempre lucrou no país, havendo crise ou não, nem isso tem feito.

Segundo o portal de notícias UOL, apesar de anunciarem que “ajudariam” os clientes a enfrentar a crise, até mesmo empresários estão reclamando que o setor não está liberando empréstimos, aumentou os juros e reduziu os prazos de pagamento. Em algumas operações, a taxa mais que dobrou. Para os trabalhadores nem se fala. A taxa de juros do crédito rotativo dos cartões de crédito, por exemplo, ultrapassa os 300% ao ano.

O rombo da Dívida Pública

Além de injetar dinheiro público nos bancos, Paulo Guedes, o ministro de Bolsonaro que é de confiança do setor financeiro, e o Congresso, estão aproveitando a pandemia para aprofundar ainda mais o sistema fraudulento que gera a Dívida Pública no país para favorecer o sistema bancário.

A PEC 10/20, chamada PEC do Orçamento de Guerra, aprova na Câmara na semana passada, e que será apreciada pelo Senado, foi anunciada como uma medida para garantir os gastos emergenciais no combate à Covid-19. Mas é uma armadilha que também favorece os banqueiros.

Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, a PEC irá comprometer o orçamento público “de forma desastrosa e gerar dívida pública sem limite”. “Isso porque a PEC autoriza que o Banco Central atue em mercados de balcão e compre papéis podres sem qualquer limite ou controle, assumindo os prejuízos e os riscos de bancos intermediários e engordando ainda mais os lucros desses bancos”, afirma em nota a organização especializada em auditoria da Dívida Pública.

“É inaceitável o fato de que enquanto medidas são apresentadas para cortar o salário de trabalhadores e sacrificar ainda mais quem produz e sustenta a economia, nos últimos dias o Banco Central anunciou pacote estimado em R$1,2 trilhão para socorrer os bancos”, afirma Maria Lúcia Fatorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, em petição que pede a suspensão da Dívida Pública.

“Os bancos são os únicos que seguem batendo recordes de lucros a cada trimestre, enquanto toda a economia brasileira enfrenta, desde 2015, queda e estagnação do PIB; quebra de empresas de todos os ramos, desemprego recorde etc. Isso é explicado pelo funcionamento dos diversos mecanismos financeiros que têm gerado dívida pública, ao mesmo tempo em que os recursos são transferidos aos bancos, a exemplo da remuneração de sua sobra de caixa”, afirmou também.

“É urgente pressionar as autoridades para priorizar o que deve ser priorizado: a vida das pessoas. E instalar imediatamente uma completa auditoria da dívida pública, com participação social e, ao mesmo tempo, suspender os pagamentos dos gastos financeiros com o Sistema da Dívida, para destinar os recursos prioritariamente para socorrer a grave pandemia do coronavírus”, concluiu.

A CSP-Conlutas defende a suspensão imediata do pagamento da Dívida Pública, das reformas ultraliberais de Paulo Guedes e revogação do projeto de emenda do Teto de Gastos, da Lei de Responsabilidade Fiscal (EC 95), da Emenda Constitucional 103/19 (Reforma da Previdência) e da Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista).

Confira aqui as medidas propostas pela Central para o enfrentamento dos efeitos da pandemia e da crise

Assista vídeo com Maria Lúcia Fatorelli que explica a sangria do dinheiro público aos bancos e pelo sistema da Dívida Pública