Há anos, a Fundação Lemann, do bilionário Jorge Paulo Lemann, segundo homem mais rico do país e um dos mais ricos do mundo, tem tentado aumentar a sua zona de influência sobre a educação pública brasileira. Apesar de se apresentar como uma entidade sem fins lucrativos, sem filiação partidária e sem associação com qualquer tipo de instituição, claramente representa os interesses ideológicos e financeiros dos milionários do Brasil.
A fundação age em várias frentes, a partir do financiamento de grupos como o “Todos pela Educação” e de “parcerias” com as secretarias de educação de cidades e estados, para poder vender serviços de tecnologia e formação de instrutores e professores. Um exemplo, já noticiado pelo Sind-REDE/BH foi a parceria firmada com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para adoção da Plataforma Khan Academy. Em que a fundação ofereceu o acesso “gratuito” da plataforma, mas a PBH precisaria contratar os seus serviços de suporte e formação da Plataforma.
Mas a influência do bilionário tem avançado a passos largos também no governo Lula, o movimento Todos Pela Educação participou da equipe de transição do novo governo, compondo a pasta de educação e permanece influenciando diretamente o Ministério da Educação, comandado por Camilo Santana.
A influência da fundação agora se consolida com o estabelecimento do acordo de cooperação entre o MEC e a ONG MegaEdu, financiada por Lemann. O acordo, firmado no dia 14 de agosto, dá à ONG espaço para opinar sobre conexão de escolas públicas à internet. A fundação afirma que a parceira não pressupõe “nenhum tipo de transferência de recursos”, contudo a MegaEdu também passou a integrar um conselho do Ministério das Comunicações que definirá como será gasto parte dos R$ 6,6 bilhões que devem ser destinados à conectividade nas escolas.
O jornal Estadão revelou que quem levou a MegaEdu para o MEC foi a secretária de Educação Básica, Katia Schweickardt, que até setembro constava como integrante do comitê de especialistas do Centro Lemann. O nome dela foi retirado da lista após o jornal questionar o MEC sobre a ligação das duas partes do acordo com Lemann. Katia é um nome repudiado pelos trabalhadores em Educação, pois quando foi secretária de Educação de Manaus, no governo de Arthur Virgílio Neto (PSDB), em 2017, chamou os grevistas de criminosos por questionar a política de gastos do FUNDEB. Sua gestão também foi marcada pela falta de merenda nas escolas.
Segundo especialistas, a questão dos recursos está longe de ser o maior problema. Segundo um estudo realizado pela Unesco e pela Unicef sobre informatização e digitalização nas escolas de todo o mundo, dados e informações falsas estão sendo produzidos por empresas de tecnologia com o objetivo de aumentar o processo de colonização da educação por meio digital. Em outras palavras, a tecnologia não tem sido utilizada pelos governos e comunidade escolar para melhorar o processo educacional, mas sim, a Educação tem sido utilizada como porta de entrada de empresas de tecnologia (Bigtechs) para vender produtos e extrair dados dos trabalhadores e estudantes para serem comercializados externamente.
Outra crítica que os especialistas estão fazendo sobre o conteúdo do “letramento digital” oferecido pelo MEC, através dessas parcerias, é que ela tem o objetivo de ensinar os estudantes a utilizarem os aplicativos das Bigtechs, quando na verdade o objetivo deveria ser o de criar uma consciência crítica sobre estas tecnologias. Na prática, o que as Bigtechs querem é que as escolas ensinem as pessoas a operar as suas plataformas como Google, Youtube, Facebook e Instagram. Mas o que deveria ser ensinado é como identificar quais são os conteúdos relevantes, como se precaver em cair em notícias falsas e como criar uma cultura crítica de uso da internet, não restrito aos grandes conglomerados de redes sociais.
É preciso salientar que Jorge Paulo Lemann é um dos empresários membros do grupo 3G Capital, grupo responsável pela empresa Americanas, protagonista da maior fraude fiscal da história do capitalismo Brasil, que escondeu uma dívida de aproximadamente R$ 20 bilhões e desestabilizou o mercado do varejo do país, deixando mais de 10 mil credores, que correm o risco de quebrar, além de 150 mil acionistas minoritários que ficaram no prejuízo.