O que os trabalhadores da Rede devem esperar de um 2º mandato de Kalil e da nova composição da Câmara?

Como apontavam as pesquisas, prefeito é reeleito com folga no primeiro turno e tem ampla base de apoio no legislativo

Foto: Google Maps

A primeira eleição a acontecer durante a pandemia do novo Coronavírus não apresentou uma grande surpresa em relação ao que já indicavam as pesquisas para a prefeitura municipal. Alexandre Kalil (PSD) foi reeleito em primeiro turno com 63,36% dos votos. Por toda a campanha, nenhum outro candidato chegou a ameaçar sua liderança.

Por outro lado, a disputa pelo segundo lugar, protagonizada por Áurea Carolina (PSOL), Bruno Engler (PRTB) e João Victor Xavier (Cidadania) foi acirrada. Embora nenhum dos concorrentes tenham chegado a 10% dos votos, uma pequena reviravolta levou o candidato Bolsonarista Bruno Engler (PRTB) a passar do quarto para 2º lugar no último dia de campanha.

Apesar do crescimento de Bruno Engler no último dia, refletindo o setor ultraconservador da cidade, Belo Horizonte seguiu a tendência do restante do país, em que as candidaturas que trouxeram a imagem de Bolsonaro para o palanque eleitoral tiveram pouca expressão. Em contrapartida, o chamado “centrão” que com um discurso mais manso apoia as pautas econômicas de enxugamento do estado e retirada de direitos, tiveram muita força.

O que esperar de um novo governo Kalil

Alguns fatores explicam a vitória de Kalil ainda no primeiro turno, com uma diferença de votos significativa. A posição centrista e populista de Kalil, sempre se esquivando de se posicionar em assuntos polêmicos e abusando das frases de efeito, uma equipe de governo heterogênea, que conseguiu contemplar vereadores e movimentos dos mais diversos campos políticos, mantiveram a rejeição do Prefeito baixa.  Um ponto de destaque é a gestão da pandemia do novo Coronavírus, o discurso diferenciado de Bolsonaro e a defesa, mesmo que parcial, do isolamento social permitiram que Belo Horizonte apresentasse um ritmo de crescimento de mortes e contaminações menor e mais diluído no tempo do que em outras capitais brasileiras. Outro fator a ser considerado é o desgaste do PT e PSDB, partidos que historicamente governaram a cidade.

Apesar de não ter uma oposição consolidada na Câmara Municipal, o governo Kalil encarou uma oposição de base no funcionalismo público. O prefeito intensificou o achatamento salarial iniciado nas gestões anteriores, sobretudo para os trabalhadores da Educação e por isso enfrentou 4 greves do setor.

Segundo estudo encomendado pelo Sind-REDE/BH ao Ilaese, a gestão Kalil consolidou Belo Horizonte como a capital que menos investe nos Serviços Públicos em relação a sua arrecadação. Ela está em o terceiro lugar entre as capitais e cidades com mais de um milhão de habitantes que menos gastam proporcionalmente com pessoal e em segundo entre os municípios que menos investe em professores.

Além do achatamento salarial gerado por reposições salariais abaixo da inflação, a gestão de Alexandre Kalil também foi marcada por ataques aos direitos dos trabalhadores em Educação, com tentativas de quebra da carreira, mudanças regressivas no estatuto do servidor, cortes de salários e benefícios, tentativa de demissão em massa dos trabalhadores terceirizados e um desvio direto dos recursos da Educação para terceirização através de empresas privadas e ONGs. Para se ter uma ideia, o gasto da Smed com esse tipo de contrato passou de 500 milhões em 2018 para 1 bilhão em 2019.

Nenhuma EMEI foi construída na gestão de Kalil, o projeto aplicado foi de reduzir o investimento na Rede Própria e apostar nas creches conveniadas, mais baratas e mais lucrativas em votos.

Já o investimento em pessoal passou por um processo de liquidação. No primeiro quadrimestre de 2018 o investimento era de 74% do valor bruto do Fundeb, em 2019 caiu para 68,97% e em 2020 chegou a apenas 60,85%. Já o recebimento da Prefeitura em relação ao Fundeb teve um aumento no valor bruto de 13%.

Na tão elogiada gestão da Pandemia, Kalil penalizou novamente os trabalhadores em Educação, cortando o vale alimentação dos trabalhadores terceirizados e concursados e quebrando contrato de extensão de jornada (dobras), reduzindo pela metade o salário de cerca de 900 trabalhadores.

Para o Sind-REDE/BH, toda essa análise somada à campanha realizada por Kalil indica que os futuros enfrentamentos com o Governo não serão fáceis. Já agora, no início de dezembro, a pauta do aumento da alíquota da Previdência volta a tramitar. Mesmo que muitos vereadores tenham perdido os seus mandatos, ainda não se sabe como acontecerão as negociações de cargos por debaixo dos panos. A reforma administrativa, que os servidores conseguiram barrar em 2019 deve voltar à baila, colocando em risco carreira da Educação. A privatização da educação, em especial na educação infantil, também deve ser um ponto de atenção especial para os trabalhadores.

Câmara Municipal mantém estrutura majoritariamente conservadora

A Câmara Municipal de Belo Horizonte passou por uma grande renovação. Quase 60% dos vereadores eleitos vão exercer o seu primeiro mandato na casa legislativa. Contudo, a dança das cadeiras não parece indicar uma mudança qualitativa em sua composição.

Kalil inicia o mandato elegendo 43% de vereadores de sua coligação. Ainda é cedo pra afirmar se isso garantirá maioria nas votações, pois os partidos ainda devem se posicionar em relação a adesão ou oposição ao governo.

O aumento significativo no número de mulheres, de 4 para 11, e a eleição de uma trans são elementos representativos importantes. Mas de conjunto a Câmara permanece sendo um espaço onde o embate político será duríssimo, visto que a pauta de retirada de direitos é uma tônica dos partidos da ampla maioria dos vereadores eleitos

Entre os candidatos eleitos, apenas 3 assinaram a carta de compromisso elaborada pelo Sind-REDE/BH contemplando as mais diversas pautas da categoria, as vereadoras eleitas Iza Lourença (PSOL) e Sônia Lansky da Coletiva (PT), cujo mandato inclui a professora da Rede Municipal Rúbia Ferreira e Duda Salabert (PDT), que não chegou a sair na matéria divulgada pelo Sindicato por ter enviado a sua assinatura após o prazo final de divulgação na sexta-feira (13/11), mas também se comprometeu com as pautas da educação.

Confira a lista com todos os vereadores eleitos e seus respectivos partidos por ordem de votação. O Sind-REDE/BH cumprirá a tarefa de procurar todos eles na busca do compromisso com a educação.

Vereadores

  1. Duda Salabert – PDT
  2. Nikolas Ferreira – PRTB
  3. Professora Marli – PP
  4. Gabriel Azevedo – Patriota
  5. Alvaro Damião – DEM
  6. Marcela Trópia – Novo
  7. Fernando Luiz- PSD
  8. Irlan Melo – PSD
  9. Walter Tosta- PL
  10. Juninho Los Hermanos – Avante
  11. Iza Lourença – PSOL
  12. Jorge Santos – Republicanos
  13. Helinho da Farmácia – PSD
  14. Bella Gonçalves – PSOL
  15. Nely Aquino- PODE
  16. Cláudio do Mundo Novo – PSD
  17. Léo Burgues – PSL
  18. Rogério Alkimim- PMN
  19. Fernanda Pereira Altoé – Novo
  20. Bim da Ambulancia – PSD
  21. Macaé Evaristo – PT
  22. Ramon Bibiano- PSD
  23. Flávia Borja – Avante
  24. Braulio Lara – Novo
  25. Dr. Celio Frois – Cidadania
  26. Prof. Juliano Lopes – PTC
  27. Bruno Miranda – PDT
  28. Reinaldo Gomes Preto do Sacolão – MDB
  29. Wesley Autoescola- PROS
  30. Prof. Claudiney Dulim – Avante
  31. Sonia Lansky da Coletiva – PT
  32. Marilda Portela- Cidadania
  33. Ciro Pereira- PTB
  34. Miltinho CGE – PDT
  35. Henrique Braga – PSDB
  36. Rubão – PP
  37. Wanderley Porto – Patriota
  38. Wilsinho da Tabu- PP
  39. Gilson Guimarães – REDE
  40. Marcos Crispim- PSC
  41. José Ferreira Projeto Ajudaí– PP