Desde o segundo turno, que culminou na derrota de Bolsonaro em sua tentativa de reeleição, uma série de ações violentas com assinatura de grupo Neo-nazistas tem aparecido com mais frequência nas escolas. A última delas aconteceu na Escola Municipal José Silvino Diniz, no Bairro Solar do Madeira em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.
A escola foi invadida durante a madrugada desta terça-feira (29/11), e teve vidraças, cadeiras e mesas quebradas, lixos revirados, e paredes pichadas com símbolos nazistas. Muitas suásticas foram desenhadas nas paredes das salas e banheiros, junto com mensagens de ódio direcionadas à diretora da escola e a turma do 9º ano. Além do vandalismo generalizado, uma exposição realizada pelos alunos em referência ao Dia da Consciência Negra foi completamente destruída, onde também foram pichados o nome de Hitler e do Nazismo.
Segundo funcionários, a polícia foi chamada ao local e um boletim de ocorrência foi registrado. Mas nenhum perícia foi realizada, sob a alegação de que pessoas já haviam adentrado ao local. A diretora também denunciou uma página no Instagram com as iniciais da escola que associam imagens de violência à escola e um jogo eletrônico chamado Bully, em que um adolescente delinquente juvenil utiliza de violência para ser respeitado e subir na hierarquia social da escola.
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação de Contagem informaram que estão acompanhando o caso e que uma outra escola municipal da cidade também sofreu uma tentativa de invasão. A Escola Municipal Professora Maria Martins “Mariinha”, no bairro Tropical.
Ataque acontece na esteira de outro atentado
Poucos dias antes do ataque à escola de Contagem outro caso de violência extrema relacionado a radicalização de extrema direita chocou o país. No dia 25/11, na cidade de Aracruz, no Espirito Santo, um adolescente de 16 anos fez um ataque armado a duas escolas da cidade, sendo uma delas a que ele próprio estudava.
O atentado deixou quatro mortos e 12 feridos. O autor dos disparos utilizou armas do pai, tenente da Polícia Militar e roupas com estampas militares e símbolos nazistas. À polícia, o assassino confessou ter proximidade com ideias neonazistas. Nas redes sociais, seu pai também já havia feito uma postagem com o livro Mein Kampf, de autoria do líder Nazista Adolf Hitler, com os dizeres “ler causa expansão da consciência”.
Sindicato tem recebido denúncias de ataques e atentados
Só esse ano o Sind-REDE/BH recebeu quatro denúncias de ameaças à escolas municipais de Belo Horizonte. Um deles, na Escola Municipal Luiz Gatti, no Barreiro acarretou na prisão de um jovem de 19 anos e na apreensão de um adolescente de 13. O caso aconteceu em junho, quando o jovem armado com uma replica de arma de fogo e um canivete invadiu a escola causou pânico entre os alunos e trabalhadores. O adolescente havia feito ameaças a outros estudantes após uma briga.
Também no Barreiro, em agosto, uma página na rede social foi criada com fotos de armas e munições sugerindo a data para um ataque à Escola Estadual Celso Machado, na região do Barreiro.
Casos de ameaças de instalação de bombas ou massacres também foram registrados em Escolas da Rede Privada. Em setembro, bilhetes com ameaças de um massacre foram encontrados no Colégio Batista, na região leste da capital mineira. E em março, no Colégio Santa Dorotéia no bairro Sion, um aluno levou uma granada para a sala de aula, o esquadrão anti-bombas da polícia militar precisou ser acionado.
No interior de Minas, 13 escolas estaduais também foram alvos de ameaças de massacre. Nenhum caso chegou a ser efetivado, mas especialistas indicam que tom armamentista adotado pelo Governo Federal tem influenciado crianças e adolescentes.
Violência da extrema direita aumentou no governo Bolsonaro
Desde 2018, com a vitória de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da República o Brasil vive uma escalada no número de células neonazistas. O fenômeno pode ser acompanhado pelo aumento exponencial do número de inquéritos que investigam o crime de apologia ao nazismo, racismo, LGBTfobia e outras variações do crime de ódio investigados pela Polícia Federal, mas também por monitoramentos independentes como o da Safernet Brasil, que identificou um crescimento de mais de 600% nas denúncias sobre conteúdos de apologia ao nazismo na internet de 2015 à 2021.
Segundo especialistas, o discurso inflamado de Bolsonaro, que durante o seu mandato caracterizou as oposições como inimigos a serem eliminados, como fez regimes nazifascistas ao longo da história, é um grande incentivador desse fenômeno. As inúmeras referências ao neonazismo, ao supremacismo branco e ao ódio às minorias sempre presente (de forma mais explicita ou disfarçada) no governo também incentivam tal fenômeno, pois ao evocar gestos, palavras e iconografias próprias destes grupos, Bolsonaro e membros de seu governo legitimam e empoderaram suas ações.
A ideia de que professores estão doutrinando alunos nas escolas promovem caça às bruxas
Uma onda de conservadorismo nas escolas teve uma grande ascensão em 2015 com o Escola sem Partido, movimento nacional que denuncia supostos casos de doutrinação política nas escolas. De lá para cá professores começaram a ser gravados em sala de aula, perderam o emprego e o medo tomou conta das salas de aula.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro em parceria com o Instituto Marielle Franco, em 2021, demonstrou que 65% dos educadores brasileiros já sofreram algum tipo de assédio, perseguição ou censura no trabalho. 62% já repensaram uma aula com receio de uma possível repercussão negativa. Outros 30% tiveram problemas envolvendo gravações de aulas sem autorização, foram expostos em redes sociais ou sofreram invasões em atividades virtuais. 48% já foram expostos a alguma situação violenta ou sofreram ameaça de processo judicial.
O incentivo para que professores sejam reprimidos leva a uma violência que interfere, inclusive, no processo de aprendizagem dos alunos. Pais conservadores que não aceitam a educação disponibilizada pela escola e utilizam de ferramentas opressoras como forma de amordaçar professores por meio dos próprios filhos.
Esse pensamento pode ser confirmado em outra pesquisa realizada pelo Datafolha encomendada pelo ENPEC e pela Ação Educativa, este ano, em que apontou que 54% dos brasileiros acreditam que pais têm o direito de proibir as escolas de ensinar temas que não achem adequados. E, para 56% dos brasileiros, professores não devem falar sobre política em sala de aula.
Para o Sind-REDE/BH, o grande problema é que os professores sofrem com a miopia de pais que confundem política com partidarismo. “Além disso, há uma visão conservadora de mundo que vê como ameaça qualquer pensamento diferente do deles e que tem a exclusão, a religião e a disciplina militar como parâmetros”, afirma o Sindicato. “A escola e os professores precisam ser respeitados e tem o direito de trabalhar com segurança, exercendo o seu papel de educador, que é o de incentivar o pensamento crítico nos alunos”, conclui.