Valorizar os professores é imprescindível? (mas por que isso não acontece?)

O papel dos professores de escolas públicas é inegável. Mas ao mesmo tempo, sofrem problemas e até perseguição política.

O constante processo de transformação pela qual passa o mundo nos apresenta mudanças e novas possibilidades com uma velocidade cada vez maior. Não apenas nas áreas tecnológicas, mas nas relações humanas também.

Com tantas transformações, as escolas e as formas de educar também precisam se adaptar. O mundo atual é dinâmico e exige novos aprendizados. Para conseguir compreendê-lo e conviver em harmonia, o papel da escola é cada vez mais importante.

Diversos estudos apontam para um futuro em que 65% dos alunos de séries iniciais atuarão em profissões que ainda não existem. E qual é o papel do professor nesse contexto?

Mais do que transmissores de conhecimento

O método tradicional, no qual o aluno era considerado um mero subordinado em sala de aula e os professores eram mestres que tudo sabem, já é considerado ultrapassado.

Naquela visão, os professores eram a principal fonte de conhecimento e autoridade máxima. Ao longo das últimas décadas, essa lógica mudou radicalmente.

Hoje, os professores apresentam as informações e procuram mostrar aos seus alunos como lidar com elas, se posicionando muito mais como facilitadores no processo de aprendizado do que como líderes incontestes ou autoritários.

Eles atuam como mediadores e articuladores do conhecimento. Não são aqueles que detém a exclusividade da informação. Atuam como pesquisadores, que provocam os alunos a serem também curiosos e a fazerem descobertas a partir de seus próprios questionamentos.

Ajudam os estudantes a ver a realidade como seu objeto de estudo, trabalhando com os conhecimentos que todos têm e apoiam os estudantes, para que juntos sintetizem o conhecimento compartilhado.

Ao mesmo tempo em que ensinam, professores também aprendem.

Contribuindo para que os alunos possam construir também seus próprios conhecimentos, professores proporcionam meios para a formação do pensamento crítico, que é parte importante do processo de transformação da sociedade.

Muito esforço, apesar da desvalorização

Embora desempenhem uma função imprescindível para qualquer sociedade, professores de escolas públicas convivem com realidades muito duras. Salas superlotadas e falta de estrutura adequada são apenas alguns problemas do cotidiano, marcado pela desvalorização por parte de governantes e pela carência dos investimentos necessários.

Laboratórios de informática super equipados, aulas de robótica, de expressões artísticas (dança, música, pintura, fotografia etc) ou de esportes segmentados estão muito distantes da realidade da maioria das instituições.

Enquanto há países onde os salários de professores de escolas são muito próximos aos de profissões como a de médicos, por aqui a nossa realidade é muito diferente.

Professoras e professores brasileiros das redes públicas de educação básica estão entre os que recebem os piores salários no mundo. Segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com 38 países, somente Peru e Indonésia pagavam menos.

No Brasil, há inúmeras situações de profissionais da educação de redes municipais e estaduais que estão com salários congelados (alguns há anos). Em outras, como em Belo Horizonte, foram necessárias greves e mobilizações para garantir condições mais dignas, mas ainda assim os salários são muito baixos.

Desafios imensos

Embora a legislação determine uma proporção mínima de 1/3 (um terço) para atividades de preparação de aulas, correção de provas e trabalhos, reuniões pedagógicas e com os pais, formação continuada no local de trabalho ou em instituições credenciadas, muitas vezes isso não é cumprido, e os professores precisam levar com frequência demandas de trabalho para casa.

A ausência do tempo necessário para planejamento prejudica a construção do conhecimento, a avaliação e a reflexão sobre a prática pedagógica, que são elementos importantes para o aprimoramento dos mecanismos educacionais. Somente com tempo adequado é possível fazer um planejamento que consiga levar em consideração a realidade da qual fazem parte professores, escola e alunos, considerando também aspectos sociais da comunidade (como problemas e necessidades locais) e a diversidade dentro da sala de aula.

Para acompanhar as mudanças da dinâmica social, professoras e professores precisam estar em constante aperfeiçoamento. A falta de tempo suficiente para estudo e qualificação dificulta esse processo de aprimoramento permanente.

No geral, professores convivem com o adoecimento. Além disso, nos últimos tempos, se tornaram alvo de perseguição política por parte de setores da sociedade que desejam acabar com o papel transformador da educação e que propõem o retorno à concepção ultrapassada de que a função dos professores seria apenas despejar informações para que os alunos decorem os conteúdos.

Essa pressão, que muitas vezes se transforma em violência, assédio, difamação (principalmente pela internet) e perseguição, afeta o dia a dia de quem se dedica para ajudar a construir um futuro melhor para a maior parte da população.

Valorizar professores garante um futuro melhor

O aprendizado não se limita às paredes da sala de aula, mas se estende para todos os locais de vivência dos alunos. As informações não estão vinculadas apenas aos materiais didáticos tradicionais, elas estão disponíveis em qualquer lugar.

E o professor é peça central em tudo isso.

O poder público tem o dever de criar todas as condições para que professores possam desempenhar o seu papel.

Sem valorização, sem diálogo, sem a estrutura necessária, os professores não têm condições de sozinhos construírem o ensino de qualidade que a população precisa.

Valorizar os profissionais da educação pública deve ser o primeiro passo para qualquer sociedade que deseje reduzir as desigualdades e garantir o bem-estar das pessoas.

E é por isso que eles precisam do apoio de todos.

Fonte: SindRede – BH